Se as jogadoras femininas têm de usar biquíni, então os atletas masculinos têm de usar tanga!



As jogadoras norueguesas de handebol de praia despiram o biquíni e vestiram uns calções no Campeonato Europeu de Handebol feminino de praia, que chegou ao fim no passado fim de semana. 

Desrespeitaram o regulamento que proíbe que a parte inferior do equipamento cubra mais de 10 cm da parte superior das pernas e, por isso mesmo, a Federação Europeia de Handebol reagiu com ameaça de multa.

Esta regra, segundo consta, terá como objetivo aumentar a atratividade dos jogos e angariar mais patrocínios. Pois bem, por esta ordem de ideias, assumimos então que os atletas masculinos devem usar tanga.

Mas parece que não. Para estes, são impostos calções que estejam até 10 cm da rótula.

Quer isto dizer que se exige às mulheres que corram e saltem vestindo algo semelhante a cuecas, expondo as nádegas e as coxas. Aos homens, pelo contrário, permite-se que cubram o rabo e joguem seguramente mais confortáveis.

A forma como o corpo da mulher continua a ser utilizado e reutilizado como mero adereço sexual é vergonhosa. Estamos perante a objetificação do corpo da mulher, olhado em função da satisfação do prazer sexual masculino. Uma realidade que se observa nos media em geral (basta pensar em algumas campanhas publicitárias) e também no desporto. 

Utiliza-se o corpo da mulher para vender carros ou bebidas, embelezar os pódios da Fórmula 1 ou captar atenções na areia quente da praia... afinal de contas, pretendem elevar-se.... os patrocínios.

Apelamos ao combate das mais variadas formas de desigualdade entre homens e mulheres, seja na vida familiar, no mercado de trabalho ou em qualquer outro contexto. Ao mesmo tempo, condenamos a violência de gênero que pode manifestar-se, segundo as Nações Unidas, através da violência doméstica, da violência sexual, do tráfico de seres humanos, da mutilação genital feminina e do casamento infantil. 

Em 2020, a violência de gênero continuava a afetar mais de metade da população mundial.

Teoricamente, penalizamos estereótipos e as mais diversas formas de violência. Mas não será esta também uma forma de violência? Seguramente que sim.

É urgente refletir sobre estas questões que vão muito para além de um mero equipamento ou desporto. Debaixo desse mesmo equipamento estão pessoas, homens ou mulheres, que têm o direito a ver respeitado o seu corpo e o seu bem-estar.

 Que têm o direito a sentir-se confortáveis e a focar toda a sua atenção no jogo, e não nas cuecas que usam. Por fim, que têm o direito a sentirem-se verdadeiros jogadores, e não meras peças em exposição numa qualquer montra, para deleite de alguns.

A autora é psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal.

📷 Fotomontagem/Divulgação

Por Rute Agulhas