Por Isaac Roitman *

Segundo o historiador John Baines, da Universidade de Oxford, o primeiro registro de uma guerra se deu por volta do ano 2525 antes de Cristo, no estado de Lagash, localizado na Suméria (sudeste do Iraque), contra o estado Umma. Ao longo do último milênio, o avanço tecnológico das máquinas de matar fez com que os conflitos fizessem muito mais vítimas em menos tempo.


Estima-se que, no período de 4.540 anos, cerca de 14 bilhões de pessoas morreram em 14 mil guerras. A ilimitada crueldade amplamente demonstrada pela humanidade não tem analogia no mundo dos animais superiores. O professor Boris Porshnev introduziu o conceito que a humanidade no seu desenvolvimento passou por um estado de adelphophagy (canibalismo). Até hoje, o ser humano não conseguiu viver pacificamente.

Imaginar, então, um mundo com guerras, escassez de água e alimentos é assustador. Infelizmente, esse é o futuro que aguarda as futuras gerações se não revertermos esse processo por meio da implantação de uma cultura de paz planetária.

Paz não é apenas a ausência de guerra entre os países. Paz é garantir que todas as pessoas tenham moradia, alimento, roupa, educação, saúde, amor e compreensão. Paz é cuidar do ambiente em que vivemos, garantir a qualidade da água, o saneamento básico, a despoluição do ar, o bom aproveitamento da terra. Paz é buscar serenidade dentro da gente para viver com alegria.

Paz é a capacidade de se criar clima de harmonia entre todos, lembrando-se sempre de que onde existe amor, existe paz. Ao longo do tempo, a humanidade se preocupa a construir a cultura da paz. Na nossa história recente, bebemos na fonte alimentada por pensamentos e ações de grandes pacifistas, tais como Mahatma Gandi, Martin Luther King Jr., Dalai Lama, Albert Einstein, Nelson Mandela, madre Teresa e Amoz Oz.

Para que a paz possa se tornar algo viável, palpável e possível de ser conquistada é necessário começar a pensá-la como construção individual. Quando cada indivíduo perceber que o coletivo é fruto do individual, que sociedade pacífica se constrói com indivíduos pacíficos, tolerantes, desprovidos de preconceitos e atitudes discriminatórias, poderemos pensar na paz universal com mais esperança.

A conquista da paz passa também por ações governamentais, políticas públicas que proporcionem condições mínimas de vivência digna, com perspectiva de futuro para as novas gerações, criação de emprego para a população jovem e adulta, pela não discriminação do idoso ou do diferente, incluindo nessas diferenças a religião, a raça, a opção sexual, o deficiente, o obeso, o índio, o estrangeiro. Há que ser percebido que a diferença enriquece, acrescenta e aprimora.

É importante, nesse aspecto, a educação em direitos humanos e na promoção dos valores éticos, desde a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio e no âmbito universitário. Deve englobar o educando, os professores e toda a comunidade escolar e a família, com ações multidisciplinares integradas e com a promoção dos valores e virtudes.

Os grandes líderes da humanidade nos ensinam que a não violência não se confunde com passividade ou harmonia idealizada. A não violência é caminho que exige exercício contínuo e incansável de diálogo, luta determinada e persistente contra as injustiças, prática constante de ações criativas em prol da humanidade. Como vivemos numa época em que carecemos de bons modelos éticos para guiar nossas ações, busquemos nas belas páginas das vidas dos grandes líderes do passado a inspiração necessária para fazer a nossa parte na construção de cultura da paz no presente.

Em seu famoso discurso em 1963, “Eu tenho um sonho”, Martin Luther King pregou a luta pela liberdade e pela dignidade dos negros nos Estados Unidos. Porém, acrescentou ao discurso: “Não devemos permitir que o nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma”.

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