Joe Biden vai falar com à nação norte-americana. / © EPA/Chris Kleponis / POOL

Multidões concentram-se no aeroporto da capital do Afeganistão em desespero na tentativa de abandonar o país após a tomada de poder por parte dos talibãs.

Com o caos instalado em Cabul, capital afegã já nas mãos dos talibãs, o presidente norte-americano Joe Biden vai interromper as férias para fazer esta segunda-feira um discurso à nação sobre a dramática retirada dos EUA do Afeganistão, anunciou a Casa Branca.

Biden, atualmente na residência presidencial de Camp David, retornará a Washington e "fará comentários sobre o Afeganistão" na Sala Leste da Casa Branca, diz um comunicado.

A reação de Biden permitirá uma primeira resposta oficial do presidente norte-americano às críticas, internas e internacionais, que são apontadas à retirada das tropas norte-americanas. 

Isto num dia em que se instalou o caos no aeroporto de Cabul, após a entrada das forças talibãs na capital afegã, no domingo. Milhares pretendem abandonar o país, dirigindo-se para o aeroporto, onde tentam forçar a entrada nos aviões.


 

A Reuters avança que, pelo menos, cinco pessoas morreram e que militares norte-americanos dispararam tiros para o ar para dispersar as multidões que tentam, em desespero, fugir do país.

Militares norte-americanos, que falaram sob condição de não serem identificados por não estarem autorizados a discutir a operação em curso, disseram à Associated Press (AP) que o caos provocou sete mortos, incluindo vários que caíram de um avião que tinha descolado.



"A multidão estava fora de controle", disse um oficial norte-americano à Reuters. Os disparos foram feitos "apenas para acalmar o caos", justificou.

Nas redes sociais circulam vídeos que mostram milhares de pessoas no aeroporto de Cabul, com algumas tentando desesperadamente subir nos aviões que partem. 

É possível ver pessoas caindo das aeronaves americanas em pleno voo, não sobrevivendo a queda.


De acordo com uma testemunha, foram vistos corpos de cinco pessoas levadas para um veículo, não sendo clara a causa da morte.

"Temos medo de viver nesta cidade", disse à AFP um antigo soldado, de 25 anos, enquanto estava numa das pistas do aeroporto internacional Hamid Karzai, em Cabul, que está fechado para ligações comerciais. 

Aliás, várias companhias de aviação suspenderam voos no espaço aéreo afegão, entre as quais a Air France, a Lufthansa e a Virgin Atlantic.

A companhia aérea francesa Air France indicou esta segunda-feira que vai evitar "até nova ordem" o espaço aéreo afegão, por motivos de segurança, afetando a duração de voos para alguns destinos. 

Num comunicado enviado à agência Efe, a companhia aérea francesa refere que a "segurança dos clientes é um imperativo absoluto".

A Air France indica igualmente que tomou a decisão na sequência das recomendações comunicadas pelas autoridades locais responsáveis pela aviação civil.

Anteriormente, o grupo de aviação Lufthansa já tinha anunciado a suspensão "até nova ordem" do sobrevoo do Afeganistão, onde as forças talibãs recuperaram o poder provocando a saída urgente de cidadãos estrangeiros. 

Seis mil soldados norte-americanos enviados para o aeroporto de Cabul.

Os EUA enviaram cerca de seis mil soldados para o aeroporto internacional de modo a garantir a retirada em segurança do pessoal da embaixada norte-americana, bem como os afegãos que trabalharam como intérpretes ou em outras funções de apoio. 

Mais de 60 países apelam à "responsabilidade" dos talibãs

Elementos dos talibãs de guarda junto ao aeroporto internacional de Cabul. / © EPA/STRINGER

A entrada das forças talibãs na capital afegã, depois que o presidente Ashraf Ghani ter abandonado o Afeganistão pôs fim a uma campanha militar de duas décadas em que os Estados Unidos e aliados, incluindo Portugal, tentaram transformar o país, sem êxito. 

As forças de segurança afegãs, treinadas pelos militares estrangeiros, colapsaram antes da entrada dos talibãs na cidade de Cabul. 

A embaixada dos Estados Unidos foi evacuada e a bandeira arreada tendo os diplomatas norte-americanos sido conduzidos para o aeroporto. 

Outros países ocidentais também encerraram as respetivas missões diplomáticas e estão retirando os funcionários e os trabalhadores contratados localmente.

Alemanha e França enviaram voos militares para repatriamento

"Há combatentes talibãs em cada rua e nos cruzamentos da cidade"

Na cidade de Cabul, a maior parte dos habitantes mantêm-se dentro de casa, mas há relatos sobre pilhagens levadas a cabo por homens armados. 

As forças talibãs libertaram milhares de prisioneiros que se encontravam em várias prisões do país durante a ofensiva que decorreu durante as últimas semanas.

Combatentes talibãs foram destacados para as maiores artérias da cidade e para junto dos cruzamentos no centro da cidade, de acordo com os vídeos que foram divulgados nas últimas horas. 

Os talibãs protegeram Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, nos anos que se seguiram ao ataque a Nova Iorque, em 2001. 

Calcula-se que atualmente vivem na cidade de Cabul cinco milhões de pessoas. 

Lusa e AFP